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Agência de energia vê interesse em leilões do petróleo

Agência de energia vê interesse em leilões do petróleo

Em: 28/01/2019 às 10:06h por

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, está otimista sobre o grau de interesse das multinacionais do petróleo nas próximas licitações do pré-sal, incluindo o megaleilão de excedentes da cessão onerosa.

"Mesmo as petroleiras pensando duas vezes antes de investir em projetos de longa duração, o pré-sal brasileiro continua sendo uma das oportunidades de investimento mais atrativas em todo o mundo", disse ao Valor, à margem do Fórum Econômico Mundial, que ocorreu em Davos na semana passada. Ele elogiou as reformas promovidas pelo governo anterior no marco regulatório do setor, a definição de um calendário de leilões e o reposicionamento da Petrobras nos últimos anos.

Birol, economista turco que assumiu o comando da AIE em 2015, alerta sobre a possibilidade de volta ao déficit no mercado global de petróleo ainda no primeiro semestre. Tudo depende da implantação dos cortes anunciados por grandes países produtores - Opep e Rússia - e da velocidade de aumento da demanda neste ano. A agência projeta que o Brasil aumentará sua produção diária para 3,7 milhões de barris de petróleo em 2025, 4,3 milhões em 2030 e 4,8 milhões em 2035.

Valor: No ano passado, a cotação do petróleo subiu para os níveis mais altos em quatro anos, mas caiu logo depois. Quais são os fatores que poderão jogar os preços para cima ou para baixo em 2019?

Fatih Birol: Depois de ter subido para mais de US$ 80, o preço do barril recuou para a faixa dos US$ 50 no fim de 2018 e agora se estabilizou em um patamar pouco acima dos US$ 60. Os principais fatores que vão determinar a direção dos preços neste ano são: a implementação do Acordo de Viena, que determinou cortes na produção [da Opep e da Rússia em 1,2 milhão de barris por dia], e a força da demanda global.

Quanto aos cortes, é preciso esperar para ver se os produtores de fato implementam o que foi prometido. Se cumprirem a palavra e a demanda continuar forte, o mercado de petróleo se reequilibrará e haveria déficit ainda no primeiro semestre. No entanto, o crescimento da produção fora da Opep, liderado pelos Estados Unidos, será novamente alto neste ano. Isso reduz a probabilidade de aumentos agudos de preços.

Sobre a demanda, esperamos um crescimento de 1,4 milhão de barris por dia em 2019, mas reconhecemos os ventos desfavoráveis à economia mundial, incluindo uma potencial desaceleração do comércio. Em linhas gerais, como os preços estão abaixo do patamar de US$ 80 que havia sido alcançado no passado recente, os consumidores sentem um benefício e há estímulo à demanda.

"O pré-sal brasileiro continua sendo uma das oportunidades de investimento mais atrativas do mundo"

Valor: O sr. havia elogiado as reformas feitas na indústria de óleo e gás pelo governo Michel Temer, como mudanças na exploração do pré-sal e nas exigências de conteúdo local. Espera a preservação desses marcos regulatórios? A Petrobras, na sua visão, está recuperada?

Birol: O sucesso dos últimos leilões no Brasil prova que disputas abertas e honestas são essenciais para aumentar a concorrência na exploração e jogar os custos para baixo. A estabilidade e a previsibilidade do marco regulatório, incluindo seus detalhes e um calendário de leilões, são importantes para atrair novos atores e encorajar investimentos.

A Petrobras, ao reposicionar seu foco onde é realmente forte e estabelecer parcerias estratégicas com as IOCs [as grandes multinacionais privadas do petróleo, como Shell e Total], está conseguindo superar uma situação financeira desafiadora. E provar que o pré-sal brasileiro pode ser desenvolvido de forma competitiva.

Valor: É bem possível que tenhamos neste ano, no Brasil, o leilão dos excedentes da cessão onerosa. Fala-se em 6 a 9 bilhões de barris adicionais de reservas, mas também em um bônus de assinatura altíssimo, que poderia chegar a R$ 120 bilhões. O sr. prevê que haja interesse das grandes petroleiras mesmo com a exigência de um cheque tão alto?

Birol: Permita-me enfatizar que projetamos uma demanda global crescente por petróleo. Investimentos em novas frentes de produção são necessários, seja para repor campos em declínio, seja para responder a esse crescimento da demanda. Mesmo no "cenário de desenvolvimento sustentável" [feito pela agência e levando em conta substituição maior por fontes de energia renováveis], a velocidade de declínio dos campos atualmente produzindo (entre 4% e 6% ao ano) supera a queda da demanda por petróleo (em torno de 2,5%). Dito isso, mesmo as petroleiras pensando duas vezes antes de investirem em projetos de longa duração, o pré-sal brasileiro continua sendo uma das oportunidades de investimento mais atrativas em todo o mundo. Se a construção de confiança com os investidores for mantido, se o marco regulatório correto for desenvolvido para atrair investimentos no pré-sal, estou otimista sobre o nível de engajamento que veremos.

Valor: A AIE destaca, no último "World Energy Outlook", a crescente competitividade da geração solar fotovoltaica. Com as restrições fiscais de muitos países, seria factível retirar subsídios para essa fonte de energia, sem barrar sua expansão?

Birol: Globalmente, a geração fotovoltaica tem tido um progresso muito bom. Os níveis de implantação [de parques solares] estão em linha com o nosso cenário de desenvolvimento sustentável, que atinge as metas de longo prazo para a transição rumo a uma matriz mais limpa. Na direção oposta, porém, a geração eólica onshore e offshore nos últimos anos tem ficado abaixo dos níveis de implantação requeridos para alcançarmos esse cenário. No âmbito local, a competitividade relativa da energia fotovoltaica e da energia eólica depende muito dos recursos disponíveis, bem como da conectividade pré-existente às redes [de transmissão]. Em alguns países com abundância de sol, como o Chile, a fonte solar já tem ganhado leilões disputados em condições iguais, por várias tecnologias, sem nenhum subsídio. No Brasil, depende da localidade dentro do país. Vocês têm excelentes lugares tanto para geração eólica como solar, mas muitos projetos confiavam, de certa forma, em condições favoráveis de financiamento pelo BNDES.

Fonte: Valor Econômico