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Energisa, a 'zebra' que levou o Rede

Energisa, a 'zebra' que levou o Rede

Em: 14/04/2014 às 13:18h por O Estado de S. Paulo

 

A Energisa assumiu na sexta-feira, oficialmente, o problemático Grupo Rede, em recuperação judicial desde 2012. A empresa da família Botelho desbancou concorrentes como CPFL e Equatorial - que, juntas, faturam 6,5 vezes mais que ela. As duas eram as favoritas nas negociações para a aquisição da companhia fundada por Jorge Queiroz, mas em julho do ano passado, tiveram suas propostas colocadas de escanteio pelos credores do grupo, que acabaram aprovando a oferta de aquisição feita pela Energisa, no valor de R$ 3,2 bilhões, em que os detentores da dívida saíram com mais dinheiro no bolso.
Entre julho e janeiro, a família Botelho obteve autorização dos órgãos reguladores para concretizar a compra do Rede e nos últimos 80 dias fez a transição para assumir a empresa que estava sob intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desde agosto de 2012. Com a saída dos interventores na sexta-feira passada, a Energisa amanheceu hoje na condição de sexto maior grupo de distribuição de energia do País: seu faturamento triplicou, de R$ 2,9 bilhões para R$ 8,4 bilhões; o número de concessionárias sob gestão passou de cinco para 13 e o volume de clientes mais que dobrou com a integração das oito distribuidoras do Rede - de 2,5 milhões para 6 milhões.
Dar esse salto não é tarefa fácil. "Além de integrar uma operação tão grande à sua base, é preciso levar em conta que alguns dos ativos que a Energisa adquiriu são muito complexos e acumulam problemas por falta de investimento", diz João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos Energia. (Leia mais sobre os desafios da empresa na pág. B03). Ricardo, o filho mais velho de Ivan, e hoje presidente da companhia, busca na história do grupo a resposta para tranquilizar quem questiona a capacidade da Energisa de dar conta dessa aquisição. "Isso não é uma novidade pra gente, basta ver o que fizemos na década de 90."
Uma das protagonistas no processo de privatização do setor elétrico, a empresa fez quatro aquisições e chegou a multiplicar seu tamanho por sete entre 1996 e 2000. A experiência deu certa confiança aos Botelho no confuso processo de aquisição do Rede, mas não resolveu tudo. "Preparar a empresa para receber as novas distribuidoras foi uma coisa de maluco", diz o presidente.
No ano passado, 120 pessoas foram deslocadas de suas funções na sede da empresa para preparar um plano de ação detalhado, até 2023, para cada distribuidora do Rede. O resultado foi um documento de 2.750 páginas entregue à Aneel em outubro e que terá de ser seguido à risca. A Energisa se comprometeu a investir R$ 1,9 bilhão na operação. A previsão é de que, em três anos, as distribuidoras atinjam, ao menos, o equilíbrio financeiro e operacional.
Integração. Para cuidar da integração, os Botelho contrataram a consultoria Booz & Company e o executivo Carlos Ferreira, que foi presidente da distribuidora de energia Elektro entre 2006 e 2011, período em que preparou a venda da empresa para o grupo espanhol Iberdrola e, depois, liderou o processo de integração. Mineiro como os novos patrões, Ferreira diz que sua missão, agora, é "fazer a integração cultural de empresas em geografias tão distintas". A Energisa atuava em quatro Estados e, com o Rede, passa a administrar distribuidoras em outros cinco.
Entre sexta-feira e hoje, os funcionários dessas concessionárias conheceram pessoalmente os novos donos. Ivan Botelho, presidente do conselho de administração, engenheiro, está na empresa desde em 1958. Seus filhos Ricardo e Maurício, presidente diretor financeiro, também cursaram engenharia. Os três velejam juntos - em todos os sentidos. É deles o recorde na Regata Internacional Recife - Fernando de Noronha, de 2011: com Torben Grael na tripulação. Acostumados a ajustar a vela contra ventos fortes, pai e filhos terão agora de fazer o mesmo no setor elétrico.