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Cogeração: País precisa de um leilão para recuperar seus reservatórios

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Em: 21/10/2021 às 09:55h por Canal Energia

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Proposta pode representar uma das saídas para recuperar os reservatórios das hidrelétricas, contribuindo para uma maior robustez ao SIN.

 

ARTIGO

NEWTON DUARTE, DA COGEN Presidente executivo da Cogen (Associação da Indústria da Cogeração de Energia)

O setor elétrico brasileiro inspira cuidados. Não é novidade que o Brasil vem convivendo com uma das mais graves crises hídricas de sua história. O que ainda não temos plena dimensão é a extensão dessa crise, uma vez ser impossível prever, com grande antecedência, como será o comportamento do período úmido nos próximos anos. Além das elogiáveis medidas emergenciais já adotadas, o cenário exige ações que mirem no longo prazo.

Antes de tudo, vale destacar a gravidade do momento. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) os reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste (SE/CO) registraram em outubro o mais baixo armazenamento médio de água para esta época desde 2000. A bacia do Paranaíba, que corresponde a 38,42% do subsistema, por exemplo, tem usinas com menos de 10% do volume útil. É o caso de Emborcação (9,94% do total do reservatório em 15 de outubro) — a usina corresponde a 10,72% do subsistema como um todo. Na mesma data, a usina de Marimbondo, na bacia do Rio Grande, opera com apenas 10,90% de capacidade. Já a usina de Furnas, que responde por 17,21% da capacidade do subsistema, chegou a apenas 15,11% de seu volume útil em 15 de outubro. O mais impressionante é o caso de Ilha Solteira, com volume útil zerado na mesma data.

É verdade que a situação teve sinais de melhora na segunda semana de outubro, confirmando as previsões de melhora na Energia Natural Afluente (ENA) anunciadas pelo próprio ONS.

De todo modo, a situação é preocupante. Ainda que o Brasil tenha testemunhado avanços expressivos na instalação de fontes não dependentes dos regimes de chuvas, especialmente dos parques eólicos e solares, estas fontes intermitentes ainda demandam geração complementar.

E uma parte significativa dessa solução pode ser encontrada justamente na geração movida a biomassas — cana-de-açúcar, madeira e licor negro, entre outros materiais.

Além de ser uma fonte de energia renovável e com menor impacto ambiental, a biomassa tem outros atributos: é competitiva, proporciona uma energia de qualidade, gerada perto dos consumidores, dispensando a necessidade de investimentos em longas linhas de transmissão.

Outro ponto a favor é a simultaneidade. A cana-de-açúcar, por exemplo, tem sua safra no período seco, em que as hidrelétricas recebem menos água, justamente quando mais precisam poupar esse recurso. Hoje, a potência instalada das biomassas representa 15,6 GW, dos quais 11,9 GW são provenientes do bagaço de cana-de-açúcar. No conjunto, elas ajudam a poupar, a cada ano, cerca de 15 pontos percentuais do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas do subsistema SE/CO.

Considerando os atuais efeitos do La Niña, parece temerário confiar nas perspectivas de chuvas muito acima da média no próximo ano e anos vindouros, na eventualidade da permanência deste efeito. Por isso, é preciso focar em alternativas que garantam a segurança energética futura, sem que fiquemos submissos aos humores do clima.

Nossa proposta é simples: a criação de leilões voltados para o “enchimento de reservatórios” com o uso de biomassas.
A ideia é que os certames sejam realizados a partir de 2022, com contratos de aproximadamente cinco anos, no modelo A-3, ou seja, com o fornecimento iniciado em três anos — tempo suficiente para que as usinas consigam se preparar e se estruturar junto aos fornecedores para aumentar a compra de matéria-prima e adaptar seus processos operacionais e de armazenamento. Ou seja, já em 2025 o País poderia se beneficiar dessa iniciativa.

Em uma estimativa conservadora, é possível calcular que as usinas que venham a participar do leilão possam gerar ao sistema algo em torno de 1,2 GW a 1,5 GW — tomando como base o volume de projetos cadastrados no último leilão A-5. Não se trataria, vale a ressalva, de um leilão de energia de reserva.

Acreditamos que essa questão poderia ser encaminhada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no primeiro semestre do ano que vem. A Cogen, desde já, está à disposição para contribuir com sugestões para a melhor modelagem do certame.

Entendemos que a inserção da cogeração no planejamento energético represente uma medida absolutamente necessária para aproveitar o potencial das biomassas, garantindo um sistema elétrico mais equilibrado, resiliente e distribuído.

Planejar a recuperação dos reservatórios das hidrelétricas é uma missão inadiável.

Newton Duarte é presidente executivo da Cogen (Associação da Indústria da Cogeração de Energia)

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