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Expansão de fonte nuclear no País depende da privatização do sistema

Expansão de fonte nuclear no País depende da privatização do sistema

Em: 30/09/2016 às 14:18h por

Sem recursos para se desenvolver, o sistema brasileiro de energia nuclear deveria ser privatizado para atrair investidores e aproveitar o potencial de uma das maiores reservas de urânio do mundo, avaliam especialistas do setor.

"No Brasil, em decorrência de dificuldades econômicas e políticas, os investimentos na área nuclear estão momentaneamente suspensos, afetando a construção de usinas, como Angra 3", observou o diretor executivo do Seminário Internacional de Energia Nuclear (SIEN), Carlos Emiliano Eleutério. Segundo ele, 60 usinas estão em construção atualmente, em 15 países ao redor do mundo.

Com as usinas de Angra 1 e Angra 2 em operação, a fonte nuclear responde hoje por apenas 2,4% da oferta de energia no Brasil. "A previsão é que em 2022 a usina de Angra 3 já esteja operando. Com ela em funcionamento, a participação na matriz energética pode chegar a 5%", disse.

A partida de Angra 3 no prazo estipulado, entretanto, depende da resolução de impasses na Eletronuclear, empresa do grupo Eletrobras dona do complexo nuclear em Angra dos Reis (RJ).

"Angra 3 só vai para frente se for privatizada, mas eu não vejo isso acontecendo no curto prazo. Porque ninguém quer comprar a Eletronuclear e o governo não tem interesse em colocar recursos nela", afirmou o especialista em energia nuclear, Roberto Hukai.

Em sua avaliação, é necessário desestatizar o setor de energia nuclear para que os projetos avancem. "Não existe mais razão para o governo controlar energia nuclear e em outros países são empresas privadas que operam", disse.

Mesmo com a abertura do setor para a iniciativa privada, Hukai lembrou que atrair investidores é outro desafio, já que os reatores instalados nas usinas brasileiras são pouco competitivos. Segundo ele, Angra 1 e 2, assim como Angra 3 que ainda não foi concluída, usam reator de água leve (PWR, na sigla em inglês). "Esse tipo de reator não é mais usado em novos projetos e é mais caro e poluente que as alternativas que já existem."

Dependente de aportes pesados para desenvolver pesquisas e construir novas usinas, a geração nuclear teria mais condições de se desenvolver com a entrada de investidores estrangeiros. "Mas o Brasil se tornou pária para estrangeiros, por causa da crise de corrupção", citou Hukai.

A Eletronuclear foi citada na operação Lava Jato no ano passado, quando o então diretor-presidente da companhia, Othon Luiz Pinheiro da Silva, pediu licença do cargo. O executivo foi condenado a prisão por crime de corrupção, informou a Eletrobras, em relatório financeiro, o chamado ITR.

"Quanto à construção da Usina de Angra 3, importa mencionar que a Eletronuclear suspendeu os contratos de montagem eletromecânica e de obra civil", afirmou a companhia, no documento.
Urânio

A exploração do urânio como fonte para energia é outra alternativa para desenvolver o setor. "O diferencial do Brasil é que ele tem a quarta maior reserva de urânio do mundo e o reator compatível com essa fonte é muito mais barato que o PWR e onde o País tem chance de produzir energia competitiva", explicou Roberto Hukai.

O analista da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), André Luiz Rodrigues, também destaca o volume de reserva de urânio do Brasil, mas ponderou que é preciso solucionar os entraves do setor.

"Inicialmente é necessário equacionar a questão de Angra 3. A Eletronuclear, juntamente com o Ministério de Minas e Energia, trabalha atualmente para superar as dificuldades financeiras e concluir Angra 3 no período previsto nos estudos de planejamento. Uma vez resolvida a questão, abre-se a oportunidade de pensar na expansão do setor no horizonte de longo prazo", afirmou.

O avanço dessa fonte depende ainda, conforme Rodrigues, da organização da área nuclear em razão do controle público da exploração e geração, previsto na Constituição.

"A estruturação do ciclo do combustível para atender à demanda, o domínio sobre o enriquecimento em escala industrial, a solução para os rejeitos de alta radioatividade e a tecnologia de reatores também constituem entraves a serem equacionados para a viabilização de novos projetos", detalhou Rodrigues.
A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) está conseguindo ampliar os negócios com urânio e já tem a exportação de 4,1 mil toneladas de urânio para a Argentina prevista para a primeira quinzena de outubro.

"Atualmente, o foco da INB é retomar a produção de urânio em Caetité [BA] para atender a demanda interna. Havendo excedente, é possível que no futuro outros mercados sejam estudados", contou o presidente da INB, João Carlos Tupinambá. Para ele, a escassez de recursos para investir é um dos principais entraves do setor.

Fonte: DCI