Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Setor elétrico recua pela primeira vez desde 2001 e agrava crise da indústria

Setor elétrico recua pela primeira vez desde 2001 e agrava crise da in

Em: 31/03/2015 às 15:30h por

 A já duradoura crise da indústria contou com um novo componente de piora no ano passado: o Produto Interno Bruto (PIB) do segmento de produção e distribuição de eletricidade, gás e água recuou 2,6% sobre 2013. Essa foi a primeira vez que a atividade dos chamados Serviços Industriais de Utilidade Pública (Siup) diminuiu desde 2001. Naquele ano, a adoção do racionamento de energia elétrica levou a um tombo de 7,9% do setor.

De acordo com os economistas, a trajetória negativa desse segmento deve se acentuar em 2015, uma vez que, com a revisão metodológica das Contas Nacionais, o IBGE passou a considerar o custo mais elevado de geração de energia com o uso mais intensivo das usinas termelétricas. Neste ano, devido à baixa quantidade de chuvas, as térmicas devem ser ainda mais acionadas do que no ano passado.

"Para produzir a mesma quantidade [de energia], você gasta mais", disse Rebeca Palis, coordenadora da pesquisa de Contas Nacionais no IBGE. Antes, explicou ela, o acionamento das térmicas não gerava um impacto diferenciado no PIB, o que passou a ser incorporado ao cálculo com a nova metodologia.

Quando as termelétricas precisam ser ligadas, o chamado custo intermediário (principalmente com combustíveis) é maior do que na geração hidrelétrica, o que faz com que o valor adicionado fique menor. Ou seja, há uma contribuição negativa para a atividade. Este é um dos fatores que podem fazer com que a retração de 1% prevista para o PIB em 2015 seja um pouco maior, mesmo com a possibilidade de que a mudança do cálculo da construção civil ajude a atividade industrial, explicou Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. Borges ainda está revendo seu cenário para este ano com base nos dados divulgados na sexta-feira pelo IBGE.

Margarida Gutierrez, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entende que o recuo de 2,6% no setor de eletricidade reflete a paralisação do setor depois da política de preços que o governo Dilma adotou como forma de aliviar a inflação. "O desempenho do setor é retrato da política suicida que o Brasil adotou quando a presidente decidiu reduzir os preços da energia elétrica por decreto", afirmou Margarida. "A queda do preço da energia feita pelo governo jogou muita insegurança no setor. Com isso, adiou-se todo um conjunto de investimentos que deveriam ocorrer."

Somado a esse fator, Margarida destacou que houve também o impacto negativo do clima, como a escassez de chuvas, situação que levou ao acionamento da energia mais cara gerada pelas usinas termelétricas. A contração do setor elétrico compõe o quadro de recuo geral do setor industrial no ano passado, à exceção da indústria extrativa. De acordo com os dados do IBGE sobre o PIB, a indústria como um todo recuou 1,2%. A retração maior se deu na indústria de transformação, com redução de 3,8%. Na indústria da construção, a queda foi de 2,6%. Já o setor extrativo mineral, que engloba a extração de minério de ferro e petróleo, cresceu 8,7% em 2014.

Apesar do bom desempenho no ano passado, o setor extrativista deve perder fôlego este ano, com o cenário menos promissor para as cotações do minério e os problemas enfrentados pela Petrobras. Nas estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), o PIB desse setor avançará a um ritmo menor: 3,6% em 2015.

A professora da UFRJ, não faz previsões estatísticas para o ano, mas destacou que a alta do setor extrativo em 2014 a surpreendeu, porque houve uma queda dos preços de commodities no cenário externo. Por outro lado, ressalta que a produção de minério de ferro da Vale aumentou muito.

Para 2015, Margarida diz que, olhando pela situação da Petrobras, há um cenário ruim para o setor extrativista, mas afirma que é difícil traçar o que ocorrerá com a produção de minério de ferro da Vale especificamente. "Esse cenário depende muito da estratégia que a empresa terá em 2015", afirma.

Antonio Carlos Porto Gonçalves, professor da FGV, afirma que 2015 não traz alento para o setor industrial de forma geral - exceto pela desvalorização do real, que pode ajudar exportadores. Ele diz que ainda está no radar dos empresários uma insegurança energética, com a questão do racionamento, o que ajuda a travar a expansão do setor, juntamente com o quadro político conturbado. (Valor)