Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Diversificação da matriz demanda planejamento

Diversificação da matriz demanda planejamento

Em: 27/11/2015 às 13:18h por

A redução das emissões de gases de efeito-estufa (GEE) no Brasil exigirá planejamento no setor de energia ao longo dos próximos anos, seja para manter a diversificação da matriz elétrica, seja para melhorar o perfil das térmicas usadas para gerar energia elétrica, seja para destravar investimentos das usinas de etanol.
Em 2014, apesar da queda de cerca de 20% no desmatamento na Amazônia, as emissões do país ficaram estagnadas em relação ao ano anterior, segundo estimativa do Observatório do Clima. O bom resultado da preservação ambiental foi anulado pela alta na quantidade de carbono lançada ao ar pelo setor de energia, que se consolidou como principal fonte de emissão de poluentes globais, ao lado da mudança de uso de terra.
A alta do setor de energia foi impulsionada pela área de transportes (grande consumidora de diesel) e pela geração de eletricidade. Nesse caso, houve aumento de 23%, por conta do acionamento de usinas termelétricas fósseis para fazer frente à seca que reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas no Nordeste e no Sudeste ao menor volume desde o racionamento em 2001.
"A participação das usinas termelétricas foi protagonista nesse resultado", afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário e coordenador-geral do Observatório do Clima. "É preciso diversificar nossa matriz energética, investindo em fontes limpas como a eólica e o etanol de segunda geração."
Há uma oportunidade no caso das termelétricas. Muitas das que vêm gerando energia foram contratadas em 2005 e 2006, quando o governo federal tinha dificuldade para licitar grandes empreendimentos hidrelétricos e quando e energia eólica não respondia nem por 1% da matriz. Naquele momento, nos leilões, foram firmados contratos com térmicas a óleo combustível ou de gás natural com baixa eficiência. Além de poluentes, elas têm alto custo, chegam a gerar a mais de R$ 900 o MWh - enquanto a hidrelétrica ou eólica gera a menos de R$ 160 o MWh.
Para o presidente da Chesf, José Carlos de Miranda Farias, na próxima década, quando os contratos das termelétricas a óleo combustível para o mercado cativo expiram, pode-se permitir que essas usinas, mais poluentes e caras, sejam substituídas por usinas a gás natural, com o insumo proveniente do pré-sal. A diversificação da matriz elétrica deve ocorrer nos próximos anos, mas as térmicas deverão continuar importantes, uma vez que fontes como eólica e solares são intermitentes, exigindo outras fontes na base da matriz.
A matriz elétrica tem mudado bastante desde a década passada. Em 2002, as hidrelétricas respondiam por 82% da produção de energia no país. Hoje, representam pouco mais de dois terços, enquanto as térmicas têm 18%, e as eólicas, 4%. Em 2024, a energia hidroelétrica responderá por 58%, as eólicas, 11%, a solar, 3%, e as térmicas, 14%, segundo perspectiva preliminar do Plano Decenal 2024, elaborado pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE).
"As hidrelétricas enfrentam muitos problemas na área ambiental, com atrasos na construção, estamos desequilibrados. É a fonte mais adequada do ponto de vista energético, mas a questão ambiental é complicada, o que exigirá uma ampla diversificação da matriz", afirma Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe.
Além de perda da participação das hidrelétricas, aquelas que vêm sendo construídas são erguidas a fio d'água, sem a construção de grandes reservatórios, o que eleva a dependência das chuvas. As hidrelétricas a fio d'água elevam a geração térmica e as emissões de gases de efeito estufa do setor de energia. Segundo pesquisa do Observatório do Clima, entre 1970 e 2013, o segmento quadruplicou a emissão de poluentes globais, chegando a 2013 com 29% das emissões brasileiras totais, quase o triplo dos 11% apurados em 2003.
Além do setor elétrico, o país terá de estar atento à sua matriz de transportes. Hoje 60% das cargas são transportadas por meio de caminhões em estradas em más condições, o que eleva consumo de diesel, por exemplo. Menos de 15% da malha rodoviária do país é pavimentada. O transporte de cargas emitiu 97 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2013, o que correspondeu a 46% das emissões do segmento de transportes no Brasil. "O Brasil é um país sobre rodas", afirma o coordenador do núcleo de logística e supply chain da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. (Valor)