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de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Rescisão de venda da Renova cria mais pressão sobre a Light

Rescisão de venda da Renova cria mais pressão sobre a Light

Em: 02/12/2015 às 12:57h por

A rescisão do contrato de venda da participação de 15,87% da Light na Renova Energia para a SunEdison, negócio de US$ 250 milhões, pode dificultar a já delicada situação financeira da empresa fluminense no próximo ano. A SunEdison notificou ontem o fim do acordo, em um momento delicado para a Light, que se vê em um processo de mudança na presidência, aliado a um impacto no caixa devido ao descasamento do preço da energia no recente leilão de hidrelétricas existentes e à obrigação de atender ao compromisso firmado com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para reduzir o índice de perdas não-técnicas.
O mercado reagiu mal ontem à notícia. As ações da companhia encerraram o pregão da BM&FBovespa com queda de 4,16%, cotadas a R$ 10,35.
Com o negócio, um dos objetivos da Light era reduzir o índice de alavancagem, que, calculado pela relação dívida líquida/Ebitda, ficou em 4,23 vezes, no fim do terceiro trimestre. No início de novembro, a Light concluiu as negociações com bancos credores para elevação temporária do limite do indicador de 3,75 vezes para 4,5 vezes como limite para os "covenants" (cláusulas dos contratos de dívida) do terceiro trimestre de 2015. Com isso, evitou um vencimento antecipado das dívidas.
Com a entrada dos US$ 250 milhões da venda da Renova no balanço, a alavancagem da Light recuaria para algo em torno de 3,75 vezes, dando mais espaço para uma negociação do R$ 1,7 bilhão em dívidas que vencem em 2016.
"Destacamos que a combinação de endividamento com os desafios operacionais devem forçar a companhia a acelerar outros desinvestimentos", afirmaram os analistas Vinicius Canheu e Arlindo Carvalho, do Credit Suisse, em relatório a clientes.
Se a venda da participação na Renova fosse concluída por US$ 250 milhões, a Light teria um efeito de R$ 850 milhões no resultado depois de impostos, reduzindo seu endividamento, escreveram os analistas.
A companhia fluminense continua negociando a venda da participação detida na Renova, o que ajudaria a mitigar o problema de caixa e a melhorar seu crédito, facilitando uma negociação das dívidas que vão vencer.
Ao Valor, a Light informou ontem que, mesmo com a rescisão do contrato com a SunEdison, não será necessária uma negociação com os credores para os "covenants". "Apesar dessa decisão significar menor disponibilidade de caixa até que uma nova eventual venda se concretize, não será necessário fazer uma negociação com os credores para os 'covenants', já que a elevação temporária dos limites, conforme foi negociado, já atende às necessidades da companhia. O planejamento prevê o cumprimento dos 'covenants' mesmo sem a venda da Renova."
Pelo acordo firmado entre a empresa e os bancos, para os três trimestres seguintes, o limite ficou estabelecido em 4,25 vezes, sendo reduzido para 4 vezes em setembro de 2016 e retorno para 3,75 vezes a partir de dezembro de 2016 até dezembro de 2018.
Além da redução do endividamento, o objetivo da Light era utilizar parte dos recursos da venda da Renova para investir na construção da hidrelétrica de Itaocara (RJ), de 150 megawatts (MW) de capacidade instalada.
O investimento total previsto em Itaocara é estimado em R$ 1 bilhão. A Light, por meio da controlada Itaocara Energia, detém 51% do empreendimento, em parceria com a Cemig, com 49%. As obras da usina estão previstas para começar em 2016. A previsão de entrada em operação da hidrelétrica é o segundo trimestre de 2018.
Os recursos provenientes da venda da participação da Renova também dariam alívio para o caixa da Light, que deverá bancar a diferença entre o valor da energia negociado no leilão das 29 hidrelétricas, cujo preço médio foi de R$ 124,88 por megawatt-hora (MWh), e o cobrado por esse bloco de energia nas tarifas da empresa, de R$ 35,82/MWh. A diferença será ajustada somente no próximo reajuste tarifário da companhia, em novembro de 2016. Segundo a empresa, porém, o efeito dessa diferença pode ser mitigado por outros itens da conta de ativos e passivos regulatórios (CVA).
O problema das perdas comerciais da distribuidora, porém, pode afetar seu próximo reajuste tarifário. A Aneel abriu um processo para avaliar se os cálculos apresentados pela Light estão corretos.
A concessionária, por sua vez, defende que cumpriu as metas de perdas não-técnicas de 39,92% sobre o mercado faturado de baixa tensão para o período de setembro de 2014 a outubro de 2015. Uma nota técnica divulgada pela agência, porém, afirma que a distribuidora não cumpriu a meta, ao praticar um patamar de 45,27%, o que ficaria acima do permitido.
Atualmente, o principal acionista da Light é a Cemig, com 26,06% de participação direta e 6,41% indireta, através do veículo de investimento Parati. (Valor)